Não sei exatamente quem é mais retardado, se o Fábio Porchat ou se o Gregório Duvivier. Eu acho que é o Gregório, mas o Fábio está se esforçando. Como qualquer celebridade, ele tem que ter uma posição sobre o atentado à sede da revista francesa Charlie Hebdo, que vitimou doze pessoas em 07.01.2015. E tem que publicar um artigo sobre isso em seu blog no Estadão. Nele, Fábio tenta responder a seus críticos e explicar por que não faz piadinhas contra muçulmanos. O mote da bagaça toda é uma provocação que ele comumente recebe, dado que é, com seus coleguinhas, a fazer piadas com a Santíssima Virgem, com Jesus Cristo e com os cristãos em geral: Com Jesus é fácil, queria ver o Porta dos Fundos fazer piada com o islamismo pra ver se vocês são fodões mesmo. E Fábio gasta um palavrório meio confuso para provar que eles são fodões mesmo e que só não fazem piadas com o profeta Maomé porque o brasileiro não entenderia. Sei. Segundo ele, como o Brasil é o país com o maior número de cristãos no mundo, todas as histórias da Bíblia são facilmente reconhecidas pela maioria absoluta da população.
É? O que ele quer dizer é que a maioria absoluta da população, com cujo Q.I. se identifica, é capaz de reconhecer Adão e Eva, Noé, Moisés, Davi e Golias, São José, a Virgem Maria, Jesus Cristo, São Pedro, Judas e Pilatos. E isso, para pessoas como ele, constitui ‘todas as histórias da Bíblia’. Não sei que nome dar a um jumento como esse. Por ter proferido uma enormidade como essa.
Aliás, vem cá. As colunas desses humoristas na Folha de São Paulo e no Estadão, porque não são inequivocamente humorísticas — o que talvez os abonasse –, são símbolo de um grave sintoma: é que no Brasil os formadores de opinião são artistas, cantores e até humoristas. Alguém já imaginou levar a sério as opiniões sóbrias de Jerry Lewis, Groucho Marx e Eddie Murphy sobre a Revolução Francesa ou sobre a Guerra do Vietnã? Ou considerar como eruditas as opiniões sérias de Mazzaropi, Chico Anísio, Costinha, Renato Aragão e Tom Cavalcante sobre Dom Pedro I, sobre o Regime Militar de 1964 ou sobre o Concílio Vaticano II? Não dá. Não faz sentido. Só que como faltam intelectuais neste país em que sobram sambistas, vereadores, guitarristas, mestrandos e doutorandos, DJs, mulheres-fruta e cantores sertanejos, todo mundo, inclusive eu e todos os demais humoristas, querem emplacar a sua opinião. Fazêmo o que podêmo. A diferença entre mim e todos os outros é que eu não sou lido por ninguém e, também por isso, ninguém me leva a sério (se um dia começarem a me levar a sério, já tenho tudo planejado: vou fazer bunda-le-lê na Avenida Paulista e depois vou pular carnaval em Salvador e chamar a Ivete Sangalo de rainha do Brasil — tudo para provar, por ‘a mais b’, que todas as minhas opiniões são apenas as opiniões de um ser humano medianamente esforçado. Nada mais. E que devem ser consideradas pelo que tem de verdadeiro, e não porque são as opiniões do experiente e já irrevogavelmente aposentado Alarico Celestino. Por mais famoso, bonito e gostoso que ele seja).
Voltando às vacas magras. Depois de muito se enrolar, Fábio Porchat nos vem com essa. Dizendo que o desafio que lhe lançam é equivalente a lhe perguntarem: Por que você não bate em alguém do seu tamanho? Meu Deus!, vejam só. Primeiro. Veja em alturas o cabra se coloca. Ninguém duvida de que cairá do cavalo. Segundo. É evidente que ele não entendeu a provocação, coitado. Escuta, seu Fábio. Quando lhe desafiam a fazer piada sobre o islamismo, à toda a evidência estão querendo dizer: vocês só fazem piadinha com quem não tem por princípio reagir a ofensas de dimensão sub-intelectual. Vocês não são capazes de se responsabilizar pelas consequências de brincar com coisa séria, quando a coisa séria é a religião dos outros e quando os outros têm por princípio reagir, de modo mais ou menos violento, a essas ofensas. Em outras palavras: vocês são humoristas somente enquanto ser humorista é fácil e está dando um dinheirinho.
É evidente que, sozinhos entre eles, esses bocós fazem piadinhas com os muçulmanos. Dou minha cara aos tapas de todo o mundo se não zombam da religião muçulmana e se não acham graça de seus hábitos. Eles são zombeteiros, todo mundo sabe. São palhaços com o estômago e com o baixo-ventre, não com o coração.
Por fim, ele insinua que quem desafia os humoristas a fazer piadas sobre Maomé gostaria, na verdade, de matá-los, mas prefere em vez disso terceirizar o serviço para o Estado Islâmico. Isso é mania de perseguição, claro. Depois, a todas as luzes, todos sabem que Fábio Porchat não precisa se preocupar com isso. Ninguém ousaria matá-lo para ganhar o Céu. Sob pena de ser seriamente advertido pelo Deus Todo Poderoso, por ter gastado energia com um ser tão inofensivo como esse humorista medianamente talentoso e projeto falhado de nano-pensador chamado Fábio Porchat. Ponto.