O reinado dos taxistas está finalmente ameaçado. Que coisa boa! A concorrência é sempre uma benção dos céus em benefício dos homens. Vejamos como acabará essa batalha entre a tecnologia e a oligarquia atrasada dos sindicalistas do volante.
Em Belo Horizonte teve protesto e o escambau. Queriam quebrar um carro de um motorista filiado ao Uber. Que eles chamam de urubus. Mas a polícia chegou e colocou ordem na bagaça. Os taxistas estão revoltadinhos porque começaram a perder dinheiro. Perder dinheiro já é ruim. Perder dinheiro para gente mais competente deve doer um pouquinho mais.
Embora eu nunca tenha usado o Uber, eu simpatizo muito com a ideia. Por outro lado, eu sempre utilizo serviços de táxi. E como todo mundo faz, me acautelo contra eventuais malandros que circulam por aí. Outro dia um gajo atendeu a um meu chamado e chegou na minha humilde residência com o taxímetro marcando algo em torno de R$7,00. Como só percebi depois de uns trezentos metros e como estava com pressa, continuei no carro do inimigo. Porém me queixei com ele, que não cedeu (disse: “a regra é ligar o taxímetro no ponto, e nós não combinamos nada diferente”). Resultado: Beleza, meu rei, nunca mais te procuro. Assim tu terás mais tempo para fazer espertices com outras pessoas — não mais comigo. Risquei o teu nome da minha agenda.
E o taxista no Rio de Janeiro, que fazia questão de me contar que um primo dele tinha terrenos em Itatiaia, RJ, e que tinha um esquema para comprar, de funcionários da Fundação Estadual do Meio Ambiente, licença ambiental para edificação no Parque Nacional? É mole? E eu, tipo: Quem te perguntou, amigo?
Até na China eu já fui vítima de taxistas: o cabra nos levou do aeroporto ao hotel. Deu uma volta absurda. Achei que já estávamos chegando ao Japão. O valor foi tão absurdo que não era possível pagar sem causar prejuízo ao nosso próprio sustento. Choramos um pouco. Não adiantou. Então, buscando nos resguardar para uma futura e certa reclamação, pedimos o recibo. Sabem o que aconteceu? O moço lá, para escapar de dar-nos o comprovante, reduziu a tarifa em mais da metade. Vagabo. Sem mãe.
Também em Marrakesh um taxista filho de uma quenga nos cobrou um valor quase duas vezes o tabelado. O nosso livro-guia indicava um valor e um adesivo colado no vidro da frente do carro, idem. Só que o cabra insistiu em cobrar uma tarifa maior, tentando me passar um 171 bravo. De nada adiantou eu reclamar. Pois ele mal falava árabe. Tenho certeza de que nunca tentou falar uma palavra em inglês na vida. Comunicávamos por mugidos. Eu tentava apelar ao senso universal de confiança e honestidade; ele tentava me convencer, por seus olhares e gestos, de que a vida era assim mesmo. Bem-vindo ao Marrocos! Não havia como estabelecer qualquer tipo de comunicação saudável com aquele homem do deserto. Naquele dia fui tomado por uma santa ira. Pedi a Deus que fizesse justiça aos seus servos. E ele criou o Uber. Bem feito.
O Uber é outra coisa. Os caras andam de carro novo, terno e têm um bom papo, dizem. É outra conversa. E os taxistas estão revoltadinhos. Não adianta, seus putos. Deixem de bobagem. Ou vocês passam a oferecer um serviço decente ou vão perder a clientela. Ponto. Ninguém tem direito de continuar ganhando dinheiro fazendo a mesma coisa de sempre depois que o mercado inventou novas e melhores formas de prestação de serviços. Não adianta chorar e chamar a polícia. Nem chamar a mamãe. A solução é melhorar o serviço. Ou entrar para o Uber e começar a ler James Joyce e Marcel Proust para conversar com os passageiros. Aliás, tem essa também, né? Ninguém aguenta ouvir taxista falando sobre futebol.