O mito

Eu conheci o Alarico em 2011, quando ele atendeu a um anúncio que publiquei em um jornalzinho da cidade de Pau dos Ferros, RN. Na época eu oferecia serviços de revisão de TCC. Alarico Celestino não fazia faculdade. Por que então buscara os meus serviços? Marcamos um café e ele chegou com uma pasta cheia de manuscritos. Segundo disse, aquelas eram suas ‘obras completas’. Precisava editar a papelada. “Eu devo isso ao mundo que foi tão bom comigo”, disse. Levei a pasta para casa e comecei a digitar os escritos no computador. Cinco contos, doze crônicas, 21 poesias, 120 aforismos e cerca de sessenta entradas de seu diário. A cada texto, crescia em mim a certeza de que estava diante de um homem diferente. O tarefa foi muito prazerosa. Deu um trabalhão, é verdade. Mas o contato próximo com ele foi minha recompensa.

Terminada a edição dos textos, seu livro foi lançado, sem muito alarde, com tiragem inicial (e única) de duzentos exemplares. Hoje já não é possível encontrar qualquer exemplar. Quem tem não vende. A quem não tem só resta a inveja e o arrependimento (nesse caso, o garimpar em alfarrábios tem ajudado a muitos a afastar o sentimento de privação). Pelo tempo que me tomou, cobrei pelo serviço um valor que ele, balançando os bolsos, viu que não tinha consigo. Era um homem simples, mas honesto. Generoso, também. Na semana seguinte, recompensou-me pelo trabalho, com excesso de justiça.

A partir de então, como ele não parasse de escrever, eu vinha insistindo em que saísse do mato e publicasse um novo volume de suas reflexões filosófico-culturais. Com muito custo ele acabou aceitando, desde que eu me dispusesse a continuar sendo seu editor. Desafio feito, desafio aceito.

Em setembro de 2014, no exato dia em que nós outros comemorávamos o 192º Ano da Independência da Terra de Santa Cruz, Alarico Celestino decidiu finalmente deixar as trevas do acanhamento.

Admirador de Seu Lunga e de Pantaleão Pereira Peixoto, leitor do Frei Clemente Rojão e do Professor Sá KushëyAlarico Celestino, o mito, que até então morava na terceira margem do rio, afastado dos holofotes, resolveu dar a conhecer ao mundo sua figura de inestimável valor. Ganha ele, com a difusão de suas ideias. Mas também ganhamos nós, sem dúvida, pelo acesso à sua obra em andamento.

Aqui você poderá acompanhar os escritos, as preleções e as entrevistas desse mito vivo, que tem no desejo de ensinar (e, principalmente, na ânsia de criticar, herdada de seu avô Giovanni Celestino) sua mais notável característica.

A frequência das postagens dependerá do ajustamento de nossas agendas e de nossas paciências (as quatro são muito curtas). Ele tem acesso precário à internet. Recebo seus manuscritos pelos Correios (quando não estão em greve ou fazendo campanha política) e, eventualmente, converso com ele pelo telefone. O conteúdo será atualizado à medida em que o material for chegando. Tenham paciência. Se a coisa apertar, segurem a ansiedade. Aqui o choro é livre. E o riso também.

O Editor

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