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Esparta após as guerras médicas

 

historia-de-las-naciones405[GR]EEsparta e Atenas saíram vitoriosas das guerras médicas, como já vimos. Atenas crescia e Esparta assistia,atenta e resignada com os próprios reveses que sofria. Pausânias, por exemplo, herói da Batalha de Plateia, tendo conquistado Bizâncio em 477 a.C., ficou meio maluco. Vestia-se de persa e achou que era o rei da cocada preta. Dizem que começou a negociar com Xerxes, para conquistar ainda mais territórios com a ajuda dos persas. Os espartanos, que não eram bobos, o convocaram de volta e cortaram suas asinhas. Mais tarde, foi condenado por ter tentado organizar uma revolta interna com a ajuda dos ilhotas. Fez greve de fome dentro de um templo; e quando estava a ponto de morrer foi tirado de lá, para morrer lá fora. Que fim, hein? Também Leotíquidas, herói da Batalha de Micala, foi surpreendido com a mão na botija. Foi desterrado como corrupto.

Vocês então percebem que as demais cidades-estado foram entendendo que os espartanos não eram tão confiáveis assim. Além de serem lentos no agir. Atenas é que era o barato, por seu rigor, por sua prontidão. Argos e Tegea são duas das que começaram a se opor à hegemonia de Esparta no Peloponeso. Mas perderam batalhas e em 469 a.C., Esparta ainda era a força da região. Mas ocorreu um terremoto, dessas coisas imprevisíveis da vida. Em 464 a.C. Empolgados com a indefinição dos governantes, os ilhotas tramaram tomar o poder, mas não deu muito certo. Exilados no Monte Itome, foram rendidos na Terceira Guerra Messênia, em 459 a.C. Despediram-se de Esparta e desde então foram liberados da servidão. Mas, percebam, Esparta não estava passando por uma boa época. E isso ajudou Atenas a se destacar. É o que veremos.

Xerxes, rei da Pérsia

Artemisia Halicarnassus & Xerxes the Great Persian Emperor

Dario não perdoara os atenienses pela derrota na Batalha de Maratona. Porém, não teve tempo de revidar. Morreu em 486 a.C. Outro que morreu logo foi Milcíades. O sucesso da última batalha lhe subiu à cabeça e o homem resolveu convocar os atenienses para atacar Paros, para expulsar um barco persa que lá, segundo disse, havia ancorado. Porém, perdeu a batalha e voltou para casa com a perna quebrada. Os atenienses entenderam que ele estava muito ousado. E o puniram. Pouco depois ele morreu. Como também morreu Cleômenes, rei de Esparta que a havia levado ao esplendor militar em toda Peloponeso. Chamado de volta do exílio, enlouqueceu de todo e, na cadeia, suicidou-se. Triste fim.

Uma nova geração de homens sucedia aos mortos. E herdava a rivalidade já conhecida. Na Pérsia, Xerxes, filho de Dario, assim que assumiu se ocupou alguns anos com os egípcios, que se rebelaram contra os persas em 484 a.C. Mas, vejam, Xerxes provavelmente não era a moça estranha que Hollywood pintou. Acautelem-se.

Enquanto isso Atenas se abria ainda mais à democracia, o polemarca e os arcontes perderam poderes e deu-se poder supremo à assembléia popular. O Aerópago, entretanto, ainda continuava nas mãos das classes superiores. Atenas criou um mecanismo interessante contra a tirania: uma vez por ano os atenienses colocavam nas urnas o nome de um qualquer cidadão que eles julgassem perigoso. Se houvesse mais de seis mil votos totais, o nome do cabra que maior votação tivesse era escolhido para o exílio, para o ostracismo, que durava dez anos. Em 487 a.C. exilou-se um membro da família de Psístrato; em 482 a.C., a Aristides.

Mas, até tu Aristides? Sim. É que enquanto os persas se livravam dos egípcios, Atenas discutia como iria se proteger. Uma discussão colocou em lados diversos Aristides e Temístocles. O primeiro, interpretando um oráculo, achava que deveriam construir um muro de madeira em torno da Acrópole, para que ali dentro se formasse uma resistência. Já o segundo insistia que o tal muro de madeira eram os velozes barcos atenienses, os trirremes. Conversa daqui, conversa de lá, e ninguém resolvia nada. Até que decidiram: exilaram Aristides e nomearam Temístocles como ministro da defesa. Fácil como isso mesmo. E a frota foi finalmente construída, com o dinheiro arrecadado das minas de prata que foram descobertas em Atenas em 483 a.C. Bravo e sábio Temístocles, de quem a vitória de Atenas é tão devedora!

Resolvida a questão egípcia, em 480 a.C., dez anos após a Batalha de Maratona, Xerxes partiu em direção a Atenas, para a desforra, a grande desforra. Porém, não sem antes passar pela Macedônia, que acabou sob seu domínio. Calcula-se que nesse ponto seu exército tinha cerca de 200 mil homens. À medida em que ele se dirigia à Grécia mesma, as cidades gregas se uniam fortemente em um só coro. Foi assim. Aconteceu um encontro na cidade de Corinto, em 481 a.C., liderado pela grande Esparta seguida de Atenas (Argos não participou, por sua rivalidade com Esparta; e Tebas, apenas pela metade, por sua raivinha contra Atenas, por conta da questão de Plateia). Pediram ajuda a Creta, Corcira e a Sicília. A primeira não podia, a segunda não queria. Sicília estava disposta, mas seu chefe, Gelón de Siracusa, para ajudar queria liderar. Nada feito, pois Esparta não era boba. Também estava com problemas intestinos, de confrontos entre os gregos da Sicília oriental e os cartagineses da Sicília ocidental. Tinha que arrumar a casa antes.

Então, Atenas e Esparta estavam sós. E os persas avançaram, começando pela Tessália, que pediu ajuda à liga de Corinto. Soldados foram enviado, mas logo viram. Era melhor recuar, diante do tamanho do exército persa. Resultado: a Tessália e o norte da eram dos persas.

Mas isso não quer dizer que estava tudo resolvido. Os persas avançavam e os gregos (quer dizer, os atenienses e os espartanos) também estavam querendo briga. Eis aí os primeiros traços da Batalha de Termópilas, tema da próxima aula.

A Batalha de Maratona

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Dario queria ver sangue. Estava possesso. Certo é que não convém a um governante levar as ofensas pelo lado pessoal. Quem tem o pavio curto não serve para governar. Anote. O governante persa, então, queria vingança. Não tinha disposição para perdoar ninguém. Ainda que assim não fosse, a verdade é que Hípias o insuflava a atacar Atenas, pois queria voltar como governante de sua cidade.

Muitas das cidades gregas, vendo a coisa apertar, acabaram se submetendo aos persas, que mandavam correspondentes para colher o aceite e a rendição. Mas Esparta, com Cleômenes, estava forte como nunca e decidiu não se submeter. Os espartanos fizeram inclusive troça do mensageiro de Dario.

E Atenas? Ah, Atenas ficava no meio do caminho, esperando acontecer… Deixando como está para ver como é que fica. Até que um Ateniense com grande visão, o arconte Temístocles, começou a divulgar uma sua ideia (nem tão sua, como já vimos): que antes de enfrentar os persas os gregos tinham de fazer uma aliança que dominasse o mar.

E os persas sedentos de conquistas… Em 490 a.C., Dario enviou forças expedicionárias que tomaram a ilha de Naxos e Eubea, na qual se encontrava a cidade de Erétrea, culpada juntamente com Atenas, segundo os persas, pelo tão lamentado incêndio em Sardes.

E Atenas não ajudava em nada. Guardava seus os soldados para sua própria defesa, se necessário fosse. Foi então cercada pelo exército persa comandado por Hípias, que se postou próximo da aldeia de Maratona. Esparta foi demandada, mas não quis ajudar (os espartanos só entravam em batalha na lua cheia). Quem ajudou Atenas foi a cidade de Plateia, que encaminhou mil homens, que se somaram aos 9 mil atenienses. O exército ateniense era comandado por um polemarca e por dez generais, um dos quais era Milcíades —  que foi o coração e a alma da resistência ateniense. No calor da coisa toda, alguns atenienses queriam se entregar, mas Milcíades, que já havia lutado ao lado dos persas, sabia que os atenienses eram superiores em armamento e em preparação física.

A retórica de Milcíades lhe rendeu a adesão dos demais soldados. Se animaram. Em 12 de setembro de 490 a.C. os gregos marcharam contra os persas em Maratona. Desprevenidos, os persas perderam 6.400 homens, enquanto os atenienses perderam 192. Talvez isso seja história de algum narrador ateniense mais empolgado. Hípias, derrotado e desmoralizado, retornou para suas bases persas com o resto do exército. Nunca mais se ouviu o seu nome.

Os atenienses que ficaram em Atenas estavam ansiosos por notícias da guerra. Ansiosos e pessimistas, claro. Quem pode contra esses persas imprevisíveis? E esperavam que a qualquer momento alguns soldados em frangalhos lhes viriam anunciar a derrota esperada. Mas não. Quem chegou lá correndo, já sem fôlego, foi o atleta Filípides, que correu 42 km entre Maratona e Atenas para avisar o pessoal que tudo havia dado certo. Mal teve tempo de anunciar a vitória dos atenienses e caiu morto. Triste fim do primeiro maratonista. Do jeito que começou, não pode ser boa coisa.

Os espartanos (que esperaram a lua cheia para colocar a sela nos cavalos) chegaram quando a batalha já havia terminado. Vistoriaram os corpos, elogiaram os atenienses e retornaram à sua terra. A Batalha de Maratona é o Davi contra Golias dos gregos; um símbolo da luta e da vitória de um exército pequeno contra um exército grandioso. Exagerando um pouco, alguns historiadores dizem que sem essa vitória não haveria propriamente civilização grega. Sim, porque se Atenas houvesse perdido essa batalha, a Grécia não alcançaria o esplendor que teve em sua época áurea. Ainda que Esparta houvesse lutado e vencido (e de fato tinha condições de vencer por sua pujança militar), a questão é que a manutenção da independência de Esparta independente não teria nada a nos oferecer como civilização, a não ser sua força militar, sua disciplina e os túmulos das crianças mortas após o nascimento.

O início das guerras contra os persas

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Ninguém gosta que ocupem sua terra e comecem a mandar no seu povo. Menos ainda os gregos. Eles realmente não estavam gostando da dominação dos persas, que já começava a incomodar grandemente. Em 499 a.C., os gregos jônios decidiram sem volta: vamos começar a bagunçar esse negócio. Do jeito que está não dá. Fizeram líder Aristágoras, que já não se dava bem com os persas e queria alguma justificativa para governar uma sonhada jônia independente. Se movimentaram. Os jônios reunidos expulsaram os líderes persas. Buscaram ajuda nas cidades gregas independentes. Na Esparta de Cleômenes não receberam ajuda. Os espartanos desconversaram, tinham mais o que fazer. Mas Atenas os ajudou, pois os atenienses, que não eram bobos, temiam que Hípias, tirano exilado na Ásia Menor, fizesse um acordo com os persas e voltasse ao poder na cidade. O inimigo de nosso inimigo é nosso amigo. Desde sempre.

Estava todo o mundo animadinho em brigar contra os persas. Mas o geógrafo Hecateu de Mileto disse algo que todos os homens sensatos percebiam. Que o buraco era mais embaixo. Que a coisa não iria dar certo assim e assado. Antes de enfrentar os persas era preciso que os gregos se juntassem e obtivessem o controle do mar. Tentou iniciar um movimento pró-liga. Mas não lhe deram ouvidos.

De todo modo, bem ou mal, a revolta jônia estava começando. E aparentemente começava bem, vejam. Os jônios tomaram a cidade persa de Sardes, pegando os persas de surpresa. Incendiaram a cidade, guardaram para si o sentimento de satisfação, e voltaram para a Jônia. Os persas ficaram machos da vida com isso. Pegaram os gregos no retorno, quando eles menos esperavam. Foi um clima azedo de derrota real após uma vitória aparente. Os atenienses olharam uns para os outros e disseram Quer saber? Essa guerra não é nossa. E se mandaram. Porém, o ataque a Sardes já havia sido feito. Ou seja, Dario, o rei persa, estava fora de si com o que os gregos fizeram. Onde já se viu tamanha desfaçatez? O velho nem dormia…

Já sem muita paciência (até em razão da idade), Dario se movimentou e, com seus homens, adentrou o Mar Egeu — como previra inclusive Hecateu. Aristágoras, o jônio, fugiu para a Trácia e ali morreu. Embora tenham tratado outras cidades gregas com relativa clemência, os persas incendiaram a cidade de Mileto — que jamais se recuperou dessa derrota.

Os jônios cutucaram os persas com vara curta. Hecateu falou. Ninguém ouviu…

Da Grécia se aproxima o Império Persa

Fonte: http://historiaespetacular.blogspot.com.br/
Fonte: http://historiaespetacular.blogspot.com.br/

No que nos interessa aqui cabe dizer que a Assíria foi tomada pelos povos medos e pelos caldeus em 612 a.C., quando Nínive foi então tomada. Dois impérios foram criados em seu lugar. No primeiro deles estavam a Babilônia, a Síria e a Fenícia, governado por Nabucodonosor, nosso conhecido, a partir de 605 a.C. Foi ele quem destruiu o Reino de Judá e transferiu os judeus ao chamado cativeiro babilônico.

Ali perto, em 558 a.C., Ciro sucedeu o pai no governo da Pérsia e logo começou uma a provocar o rei medo Astiages. Que ao final se derrotou. Tornou-se o governante do que já passava a ter os contornos de um Império Persa. E o homem era de briga. Caçou nova confusão com a Lídia, de Creso. E venceu novamente. E os gregos? Tales de Mileto já havia anunciado. Sem uma confederação que una nossos esforços, nos daremos mal, senhores. Muito mal. Porém, não houve confederação coisíssima nenhuma. Não se juntaram, verdadeiramente. As cidades foram tomadas pelos homens de Ciro. Apenas Mileto foi capaz de escapar. Ciro era um grande conquistador. Uma vez morto, seu filho, Cambises, não agiu de modo diferente. Seu pai havia conquistado parte do Império Caldeu. Chegou próximo da China e da Índia. O filho quis abocanhar o Egito. O que acabou acontecendo por volta de 525 a.C. Mais uma conquista para o Império Persa. Um império muito recente, de uma geração. Nesses casos, a vitória ainda não está consolidada. Não há propriamente uma tradição de império. Daí que para mantê-lo é preciso muita e variada perspicácia.

Rebeliões naturalmente pipocavam aqui, ali e em todo lugar. No Egito. Na Babilônia. Dario I, sucessor de Cambises, deu um jeito na coisa toda em 521 a.C. Conseguiu calar as rebeliões e decidiu uma coisa muito sensata. A gente não vai conquistar mais nada enquanto não consertar com jeito e senso o rumo das coisas nas terras que já conquistamos. E tenho dito. Designou sátrapas para governar suas vinte províncias e arrumou as estradas. Tudo feito, restava conquistar o que ainda não havia sido conquistado. Justamente a Europa. E vâmo que vâmo. O Dario I seguiu em 512 a.C. em direção à Trácia, região que fica ao Norte do Mar Egeu. No bom português, a região que hoje está parte da Bulgária e parte da Turquia. Estava tudo dominado. Algumas terras gregas foram conquistadas. Pouca coisa. Dario deu-se por satisfeito e decidiu voltar para casa. Porém, a situação da jônia, submetida ao domínio dos persas, era fonte presumível de problemas. Como veremos na próxima aula.

Clístenes

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Com a morte de Pisístrato, herdaram o trono ateniense seus dois filhos, Hípias e Hiparco. Foi uma época em que poetas e dramaturgos chegavam a Atenas, animados pelas notícias de que dois governantes cultos valorizavam a arte e a cultura. Vocês vejam que ao lado de gigantes do mundo grego devia haver muito maluco-beleza nesse meio-de-campo. Não é? Certamente já havia alguém ali reivindicando a Lei Rouanet ou algo como cotas de participação nos espetáculos. Isso é certo como dois e dois. Na vida nem sempre dá para separa o joio do trigo. Aliás, quase nunca dá. E é isso o que torna a coisa mais interessante… Tudo junto. A inteligência é quem separa. A inteligência e o coração, é claro.

Mas então. A coisa foi mais ou menos assim até que o clima esquentou. Dois jovens ligados a uma espécie de juventude nazista ateniense tramaram de assassinar os dois tiranos. Na hora H, se precipitaram e conseguiram matar Hiparco. Lógico que Hípias mandou matá-los. E foi obedecido. Hípias acordou de seu sonho cor de rosa. E começou a apertar a mão. O clima azedou. Os atenienses, acostumados à recente liberdade, não gostaram. Isso deu espaço à volta dos Alcmeônidas. Lembram-se deles? Aqueles que haviam sido expulsos de Atenas… O chefe da casa dos Alcmeônidas era Clístenes, neto de Mégacles. Terreno preparado. Mas muito acidentado.

Clístenes começou a comer pelas beiradas. Deu ofertas ao templo de Delfos. O oráculo local, que não era bobo, passou a tê-lo em boa conta. E sugeriu a Esparta, que era então uma espécie de potência bélica americana, a ajudar Atenas a sair das mãos da tirania. Esparta já estava acostumada a isso. Em 510 a.C. o rei espartano Cleómenes fez e aconteceu. Marchou sobre Atenas e mandou Hípias ver quem é que estava nas esquinas distantes de Atenas. E exigiu dos atenienses uma aliança com Esparta.

Ainda não havia chegado a vez de Clístenes, porém. De todo modo, ele foi eleito chefe dos arcontes. Os oligarcas não gostavam dessa situação instável e telefonaram para os espartanos de novo, pedindo ajuda. Em 507 a.C. Cleómenes voltou, deu uma circulada, viu que a barra estava pesada, o povo reunido em torno de uma ideia forte. Foi cercado e, como quem estava a turismo, retornou no mesmo passo para Esparta. Clístenes tomou o poder. Como era de se esperar não se engraçou para o lado dos oligarcas, pois os Alcmeônidas foram fortes apoiadores de Sólon. E não eram como o PMDB, que muda de ideia com cada novo governante que sobe ao poder. Clístenes não restaurou a oligarquia, como desejavam os espartanos. Coisa nenhuma. Pelo contrário. Restabeleceu vigência às leis de Sólon e pavimentou o caminho rumo à democracia.

Muito bem. Que tal darmos uma olhada na Pérsia? É preciso entender por que os persas passaram a ser uma pedra no sapato dos gregos a partir de então…

Pisístrato, o tirano

Pisistrato
Fonte: http://www.heritage-history.com/index.php?c=academy&s=char-dir&f=pisistratus

Vocês se lembram que Atenas reconquistou Salamina. A instâncias de Sólon. Mas foi Pisístrato, um seu primo, quem comandou a bagaça. Ele e os homens da montanha. Ganhou a batalha contra Mégara e, de quebra, levou a fama. E quando começou a ganhar força um burburinho de que as reformas de Sólon haviam ido longe demais. Que era preciso alguém para ajustar aqui e ali algum complemento mais ponderado, foi Pisístrato quem entrou em cena. Disse que havia uma conspiração para assassiná-lo, juntou em volta de si alguns soldados a título de protegê-lo e, pimba!, subiu na Acrópole em 561 a.C. Lá, deu o grito e tomou o poder. Fez-se um novo tirano.

Sólon ainda vivia. Embora a tendência de seu primo fosse a de apertar na repressão, Pisístrato acabou sendo um moderado. Manteve as leis de Sólon. E conquistou aqui e ali terras que garantiram maior segurança a Atenas. Unificou a Ática, em verdade.

Sejamos claros. Pisístrato foi levado ao poder, entre outros, pelo clamor dos camponeses, a quem ajudou com umas terrinhas. Por essas e por outras, tentaram tirá-lo do poder duas vezes. Mas ele se reforçou.

É preciso dizer que na corte de Pisístrato havia ninguém menos que Anacreonte, o poeta oficial do palácio. O tirano instituiu nas festas em honra de Dioniso concursos de tragédia destinados ao prazer e à formação dos cidadãos. Isso aconteceu uma geração antes de Ésquilo. O tom que a tragédia ganhou aí já não era aquele da poesia ática recente. Mas foi um tom que exaltava nos espectadores o orgulho de ser homem, a vontade e a esperança de ser e de ser mais. Foi também Pisístrato quem mandou copiar os livros de Homero na forma em que hoje os conhecemos. Morreu em 527 a.C. Justificou sua vida por ter aberto espaço para a tragédia grega e por ter compilado Homero. O resto é a pequena política. Dá aqui, tira ali. Um sorriso, um benefício, uma cara feia. Seria apenas um tirano ordinário. Mas, não. Foi mais, como vocês perceberam.

As reformas de Sólon

Então Sólon recebeu a incumbência de revisar as leis atenienses. E começou bem. Aboliu todas as dívidas e acabou com essa coisa de escravização por dívidas. Deixou a pena de morte apenas para casos de homicídio. Tentou moralizar a coisa, enfim. Fez reformas econômicas que tenderam a abaixar os preços e buscou importar capital humano qualificado de outras cidades gregas. Ao permitir que o povo simples participasse das reuniões da assembléia, Sólon acabou dando um passo importante rumo à democracia.

Em boa verdade, Sólon foi um árbitro entre duas classes raivosas e extremistas. Voltei-me para todos os lados, como um lobo assaltado por uma matilha de cães, disse. Com o tempo os homens pobres já não tinham dificuldade de fazer prevalecer suas opiniões sobre a dos ricos. Os limites censitários foram apagados, não sem algumas crises e novas reformas. Isso tudo já estava desenhado na constituição de Sólon. Também criou o tribunal dos Heliastas, com seis mil juízes, de que qualquer cidadão podia fazer parte. Que com o tempo julgarão praticamente todo o direito público e privado. Ali então, no começo do século VI a.C., tudo na Grécia dependia do povo e o povo dependia da palavra. Os mais românticos dizem que Sólon conseguiu isso porque amava seu povo e amava a justiça. Trouxe de volta pessoas que já não falavam a língua da Ática e erravam por todos os lugares; e tirou da escravidão pessoas que viviam sob o mau-humor de seus senhores. Se bem que os atenienses tratavam bem seus escravos, ao contrário dos espartanos, que não davam moleza aos seus. Chegavam, os espartanos, a fazer caça esportiva contra os escravos. É mole?

Sólon, o reformador

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Fonte: http://fineartamerica.com/featured/solon-ca-639-ca-559-bc-everett.html

É a vez de Sólon. Uma figura memorável. A vida de um grande homem é uma mistura indiscernível de gênio, de preparo e de oportunidade. Sólon teve um tanto de cada um dos três.

Comecemos pelo último. A oportunidade. Os comerciantes começaram a enriquecer através dos portos, começaram a comprar terras dos pequenos proprietários endividados e, assim e assim, a reivindicar espaço político – com o apoio das massas. Com o apoio das massas, entendam. A massa começou a ficar endividada. O sistema jurídico alimentava um regime de escravidão por dívidas. O bode espiatório era a nobreza. Entre a cruz e a espada. E Sólon foi lançado candidato a herói.

O homem era de família nobre, que porém em meados do século VII a.C. começou a perder dinheiro. Ele decidiu ganhar fortuna correndo o mundo vendendo azeite. Era muito curioso por conhecer novidades em outras paragens. Foi o primeiro grande poeta de Atenas. Depois que refez sua fortuna, voltou a Atenas, e era por todos considerado um espírito livre de preconceitos e um homem de fundamental honestidade. Era popular nas duas classes que travavam luta em Atenas.

Ocorreu que ele prestou um grande serviço à cidade, que na época travava com Mégara batalha pela posse da Ilha Salamina. É que quem a possuísse possuiria naturalmente Atenas, pois ela é como o ferrolho do porto ateniense. Apesar dos esforços dos atenienses, os megarenses a ocupavam. Havia um lei em Atenas proibindo se falasse da questão salamínica. Questão de preservar a honra da cidade. Aí vem o toque de gênio. Sólon se passou por louco e leu em público um poema deplorando o fato de Atenas ter entregue Salamina nas mãos dos megarenses. Os circunstantes o escutavam, de ouvido em pé. Ressabiados no começo, com pouco se deixaram arrastar pelo que ouviam. Catarse geral. Quanto desaforo nós aceitamos? Onde estávamos com a cabeça? Então deu nisso: o povo ateniense marchando sobre Salamina. Convenhamos, o cabra mereceu. A ilha foi reconquistada por Atenas. Este acontecimento. Com a estima que Sólon inspirava. Os atenienses o escolheram como arconte em 594 a.C. Transformou-se em legislador e árbitro do conflito que dividia os atenienses. O homem começou disposto a mudar muita coisa. E tinha cacife. Duvidam? Pois aguardem.

De Drácon a Sólon

Porém, pobres atenienses! Saíram do espeto e caíram na brasa. Reclamavam dia e noite dos julgamentos do Areópago? É que não sabiam o que lhes esperava no Código de Drácon, editado em 621 a.C. Foi uma legislação muito severa e francamente favorável aos nobres oligarcas. Tratou dos crimes contra o patrimônio e da servidão por dívida com penas muito pesadas. Dizia-se nas praças e nos bares de Atenas: as leis de Drácon foram redigidas com sangue!

Apesar de tudo, as leis escritas já traziam alguma segurança. Por pior que fossem, eram de todo modo previsíveis. E o terreno já estava preparado. Diante da insatisfação crescente dos mesmos insatisfeitos de sempre… A verdade é que os nobres resolveram se adiantar a um possível levante popular. E é aí que entra na história um sujeito chamado Sólon. O famoso Sólon, o homem cuja indicação agradou a gregos e baianos.