Arquivo da categoria: Fragmentos

Está comprovada a qualidade de nossas universidades

a33

Um fato ocorrido no final do ano passado comprova, se isso ainda fosse necessário, o alto nível de nossas universidades e seu comprometimento com a vida real. Trata-se de um incidente ocorrido na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Um estudante de Licenciatura em Dança — e eu aqui, caipira, nem sabia que isso existia — estava andando no campus e de repente, não mais que de repente, pisou no lugar errado e começou a tomar um choque monstro. O que seus coleguinhas fizeram? Ajudaram-no? Chamaram socorro? Não!!! Os colegas aplaudiram. Isso mesmo: os colegas aplaudiram, pensando tratar-se de uma performance. Caramba! Esfrego os olhos e não consigo acreditar. Mas leiam com seus próprios olhos a notícia que saiu no site do G1.

Mas por que isso é prova da qualidade do ensino universitário? Ora, os aplausos que o estudante recebeu são a prova viva da sensibilidade artística dos alunos daquela pocilga. Eu nunca imaginei que um curso de dança fosse capaz de estimular seus alunos a exaltar como manifestação artística digna de aplausos coisas simples da vida como tomar um choque. Hoje isso já é possível. Palmas para o Ministério da Educação.

O que aconteceu com a cultura brasileira

20130908092830807211e

Descobri esses dias, com grande atraso, um tal de Marcus Tardelli. Um violonista que faz Yamandu Costa (que é bão também) tremer nas bases. Aliás, ele é muito mais que um violonista. É um músico, ora. O Guinga disse que ele é o novo Mozart. Mas o Guinga não sabe quem é Mozart, pô. Então, deixemos o exagero dele para lá e ouçamos esse grande artista que é Marcus Tardelli (até o Milton Nascimento parou para ouvir — no estilo “quem não tem colírio usa óculos escuros”).

O que me importa aqui é perguntar: onde estavam MC Guimê, Luan Santana, Ivete Sangalo, e todos esses lixos, enquanto ocorria um evento como esse? Ah, vocês não sabem? Estavam enchendo o bolso de dinheiro, vendendo lixo para a massa. O povo brasileiro, nunca é demais lembrar, desenvolveu nas últimas décadas uma extraordinária capacidade de comer lixo. Por isso, Marcus Tardelli, Alessandro Penezzi e outros artistas são evidentemente desprezados pelas massas. Mas, quer saber? Fodam-se as massas. Foda-se o povo. Deixa o povo dançar na boquinha da garrafa e levantar as mãozinhas para o alto. O Brasil não se faz com o povo. Nunca se fez. O Brasil se faz com pessoas como Gian Corrêa e Raíssa Amaral. Aliás, pelo andar da carruagem, parece que o futuro do país está no interior: Petrópolis, Piracicaba, Passo Fundo, Caconde!

São jovens como esses, nas mais diversas áreas, que constroem uma nação. Uma nação se faz de pessoas que estudam e dedicam seu tempo a algo virtuoso. O resto são, na melhor das hipóteses, espectadores. Alguns nem isso são capazes de ser — e, portanto, merecem as nossas orações e o nosso mais profundo lamento. Quando a massa começa a falar e defender sua “cultura”, eu me lembro de Fernando Pessoa: amigos, vocês não nasceram para isso!

Mas o meu lamento não vai adiantar nada. Esses bostinhas vão continuar vendendo shows, DVDs, vão continuar fazendo campanhas publicitárias, vendendo refrigerante e cerveja e tudo vai continuar como está. Então tá. Eu só sei de uma coisa: cultura de massas é como quadrado redondo. Não existe. Ponto.

Neguinho não esculacha o Chico Buarque

chicoecaetano
Chico Buarque e Caetano Veloso, olhando ‘o passarinho’ numa época em que ‘ser do contra’ era sinônimo de ser de esquerda.

Paris foi vítima de um ataque terrorista horroroso. Em novembro de 2015. Muita gente colocou para tocar Imagine, de John Lennon. Como quem diz: vejam como eu estou aí para salvar o mundo. Tipo: se todos fossem iguais ao John Lennon e a mim, a terra viveria em paz. É isso o que esses bobos querem dizer. Só que não é assim, todo mundo sabe. John Lennon era um cara raivoso. Basta olhar os dentes dele. Rangendo.

Isso gerou muito protesto contra o pacifismo boboca de John Lennon. Principalmente entre os conservadores. Os de direita. Aí eu digo: bater no John Lennon é fácil. Ninguém, ou quase ninguém, teve compromisso com a beatlemania. Cantar Twist and Shout na adolescência não compromete ninguém. Todos sabem.

Mas, vejam, uma coisa que eu tenho reparado nos conservadores. Digam se não tenho razão. É que esses putos, quando eventualmente falam mal do Chico Buarque, outro esquerdinha-caviar, usam um tom de voz tão ameno que só tenho uma explicação para o fenômeno: têm o rabo preso. Tenho certeza de que esses direitistas mal-resolvidos, mesmo sabendo que o Chico Buarque é um petista incorrigível, lembram-se de que já se empolgaram cantando Apesar de VocêO Que Será e Geni. E pior: que já se acharam inteligentes cantando Chico Buarque. E aí vem o paradoxo: como cuspir no prato que comi? Como jogar a pedra na Geni?

Como cuspir no cara que a minha professora de Português dizia ser um gênio do tamanho de um Dante Alighieri? Como bater em um cara que fez uma música em que todos os versos terminam em proparoxítona? Seria o cúmulo do máximo do escândalo.

(…)

Eu mesmo sofro desse mal. Confesso. Também já fui brasileiro, como Carlos Drummond.

O negócio é o seguinte: se você já curtiu Chico Buarque uma vez na vida, não vai adiantar agora tomar remédio. Você pode ter-se convertido ao catolicismo, pode ser leitor do Diogo Mainardi e pode já ter lido de cabo a rabo, por duas vezes, O Mínimo Que Você Precisa Saber Para Não Ser Um Idiota e tal. Mas você sempre ouvirá no fundo de sua mente a voz de Chico sussurrando na sua cabeça: quero ficar no teu corpo feito tatuagem, que é pra te dar coragem. E ele fica mesmo, grudado na memória afetiva e musical. É muito duro conviver com isso. Já tentei me livrar de suas musiquinhas com oração e jejum. Mas ele sempre volta: Você vai me seguir, aonde quer que eu vá. Para me livrar dele, tenho dado esmolas para os miseráveis. Mas a cada dia que passa vejo que o verdadeiro miserável sou eu.

A propósito: a única coisa que guardo, saudoso, de meus tempos de beatlemania é ter tido a oportunidade de ouvir I am The Walrus na voz de Jim Carrey. Simplesmente fantástico. E só. Tudo o mais é lixo.

Precisamos investir mais dinheiro na educação (5)

13-1-8

Precisamos investir mais dinheiro na educação? Sim, precisamos! Mas não precisamos investir mais dinheiro público, não, seus putos. E, sim, o meu, o seu, o nosso dinheiro, e parte do dinheiro que a mulherada gasta com os cabeleireiros.

Sim. Por quê? Como não? Saiu no site da Veja: “As famílias brasileiras gastam, anualmente, 20,3 bilhões de reais com serviços de cabeleireiros, manicure e pedicure, segundo dados divulgados nesta terça-feira pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). O número é 18% superior aos gastos com cursos regulares de educação (da pré-escola ao segundo grau), que somam 17,24 bilhões de reais por ano. O resultado também supera os 19,86 bilhões de reais, referente ao volume anual gasto com alimentos básicos, como aves e ovos.”

Maravilha. Lindo. É por isso que tem cabeleireiro de bacana ganhando R$50 mil por mês. Não sei o que será deste país quando a geração que atualmente está nas escolas tomar-lhes as rédeas. Quero estar longe. Vai ter muita gente reclamando: Ah, se minha mãe tivesse gastado menos dinheiro fazendo escova… Mas o problema nem é tanto esse, digamos, de natureza matemática. O problema é de concepção. Evidentemente concordo: beleza põe mesa, sim. Ninguém gosta de feiúra. As feias que me desculpem. Mas, pô, não dá para gastar com beleza, tipo, um terço do que você gasta com educação, dona, incluindo aí livros, cursos, transporte etc? Não dá? Você jura que tem que gastar mais com escova que com livros? Poxa, gente, coloquem a cabeça para funcionar!

Deus é amor

Todo mundo sabe que Deus é amor. Mas não tem noção do que é isso. Caramba, Deus é amor demais da conta. Ninguém duvida que Ele tem os seus preferidos. Claro. Mas Deus ama a todo mundo. E isso é incrível. Principalmente quando você caminha pelos centros da cidade. Aí você fala: pô, Deus ama aquelas meninas que ficam vendendo cartão de celular na porta das Lojas Americanas. E não só. Ama também os camelôs que ficam vendendo pilhas da China (e dia sim, dia não, têm suas mercadorias apreendidas, com ou sem beó, pela polícia, mas no dia seguinte voltam a trabalhar). Ama o cara que fica soprando aquele negócio que coloca na boca e faz barulho de gato miando. E pior: Deus quer vê-lo no Paraíso (fico pensando: que tamanha transformação o amor de Deus fará neste caso!) Tem mais: Deus ama o cara que vai ao estádio na quarta-feira à noite para gritar pelo seu time. Deus ama os caras da Charanga do Mengão e os torcedores do Corinthians. Deus ama os caras que assistem ao Domingão do Faustão tomando cerveja de latinha. Pode? Ama o tiozão que pergunta em toda festa se é pavê ou pacomê (ama e, creio, até acha graça). Já imaginou Deus rindo disso? Os anjos servem a sobremesa e o cara pergunta: é pavê ou pacomê? E Deus cai na gargalhada… Deus ama as pessoas que falam vévi, que falam menas, que falam que o Vaticano deveria vender a Basílica de São Pedro e a Capela Sistina e doar tudo aos pobres. Deus ama as pessoas que usam crase antes de verbo. Deus ama os Djs e os cantores sertanejos. Deus ama os caras que ficam tocando Charlie Brown Jr. e dizendo que o Chorão era um gênio da poesia. Deus ama o Tico Santa Cruz e até mesmo o Gregório Duvivier. Duvidam? Pois durmam com um barulho desses! Deus ama os ressentidos e os dissonantes, os ateus e os fariseus, os escreventes e os delinquentes. Deus ama até o pessoal do Big Brother Brasil (de todas as edições, sem exceção — e isso inclui o Pedro Bial). Deus ama os escritores de livros de auto-ajuda e de empreendedorismo (e ama os leitores também). Me respondam, se puder: como não amar um Deus assim?

A ‘falta de estilo’ é o homem

sagging-skate

Vocês já viram adolescentes, adultos-adolescentes e velhos-dançados-adolescentes com aquelas calças largas caindo e mostrando para todo mundo a cueca de marca. De repente parece que todo mundo virou skatista. Muito descolados, eles se acham. Só que não. Cá para mim, estabeleci a presunção absoluta de canalhice para quem usa esse tipo de vestimenta. Ora. A não ser os aspirantes a pastor protestante, que no começo da carreira ainda não têm dinheiro para comprar roupas novas e adequadas ao seu tamanho e acabam ‘herdando’ ternos antigos e surrados de pastores já promovidos ou de adjacentes desgarrados. Com a exceção destes pobres coitados, todos os homens que usam roupas largas são canalhas. Eu poderia falar muito sobre esse assunto. Talvez eu volte a ele um dia, se sobrar tempo. E se essa moda não for banida por lei — já há vereadores preocupados, querendo legislar sobre a causa. Muito poderia ser dito sobre esse tormentoso tema. Mas quero hoje apenas passar o meu recado a esses homens de calças largas, maiores de dezoito: Tomem vergonha na cara, seus desmiolados! Vistam-se como gente! Enquanto vocês estiverem mostrando as cuecas limpinhas nas ruas da cidade, eu não serei amigo de vocês! Está avisado: não os adiciono no Facebook. Nem adianta virem com agrados. É favor não insistir.

A Religião do ‘Pão de Mel Cósmico’

paodemel
Este é o Pão de Mel Cósmico — que vive na Nebulosa do Cavalo.

Luiz Felipe Pondé é pós-pós-pós-doutor, mas virou estrela mesmo quando com fino bom humor e rara inteligência atacou, sem dó nem piedade, os chamados jantares inteligentes. No que andou muito bem, aliás. Filósofo radicado em São Paulo, é o para-católico mais enrustido da paróquia; baiano, careca, fumador de cachimbos, professor de filosofia, autor de livros de aforismos muito bem-sucedidos, dono de uma prosa fácil e escritor de artigos confusos — sim, ele mesmo — protagonizou um interessante debate sobre Religião. O vídeo, promovido pela CPFL Cultura, pode ser visto aqui.

O jantar reuniu quatro pessoas mais ou menos interessantes. Quem ‘ganhou’ o debate foi o pastor batista Ed René Kivitz. Lúcido, muito lúcido. Quase irretocável. Mandou bem. Quer tirar os pais de santos convictos dos altares católicos da Bahia. Eu também. Não fosse eu católico, servo de Deus, filho de Nossa Senhora e devoto de São Francisco de Assis, ouviria mais o que esse homem tem a dizer. Grande presença.

Em segundo lugar, pelo batismo e pela graça. Mais por isso do que por sua participação mesma. Está o católico leigo Ítalo Fasanella, fundador de uma comunidade católica.

Aí vem a parte mais curiosa: a terceira participante é uma senhora com dupla personalidade. Pelo batismo e pela origem familiar, chama-se Libertad. Mas a moça debandou-se para a Índia. Provavelmente foi em busca do Hinduísmo. Mas perdeu o mapa e acabou caindo nas garras de Swami Rajneesh, o famoso Osho. Lá foi iniciada e recebeu novo nome: Ma Dhyan Bhavya. E parece que gostou da coisa toda. Ela acredita em Deus? Na verdade, não sabe bem se é ateia ou se crê em Deus. Crê em uma ‘alma do mundo’. ‘Em uma energia, em um caminho interno de buscar a sabedoria dentro de mim’. Sei. Vai fundo. Não tentarei impedi-la.

Mas o ponto alto ficou por conta do perdedor do debate, o ateu intelectual e darwinista Jaime Alves. Para ele, a fé é fruto da falta de conhecimento. Ele, sim, está repleto de conhecimento. Quem é Santo Tomás de Aquino perto dele? Ninguém. Um mero ignorante. Quem é Joseph Ratzinger? Uma nulidade. Ele, Jaime Alves, e seus coleguinhas é que são os maiores sábios. Aposto que esse sujeito não abre um livro decente há mais de uma década. As últimas obras que leu provavelmente foram da Coleção Vagalume, no colégio. Teve orgasmos intelectuais quando descobriu, no seu livro de cabeceira, História Geral, 2ª Ano (Livro do Aluno), que o Iluminismo e a Ciência Moderna acabaram com a hegemonia que a Igreja cultivou nas trevas da Idade Média. Alimenta-se de History Channel e de National Geographic, coitado. Fato é que em razão da iminência de uma derrota fragorosa — quando Pondé já começara a contar até dez — ele acabou se saindo com essa: estou para criar uma nova Religião: a Religião do Grande Pão de Mel Cósmico que Vive na Nebulosa do Cavalo. Ganhou o coração de todos os orgulhosos desamparados que não creem em Deus nenhum: a partir de agora já podem crer em um Deus criado por um ser bem inteligente. Tão inteligente como Jaime Alves.

Eis aí os filhos do Grande Pão de Mel Cósmico. Que vive na Nebulosa do Cavalo. Esplêndido. Só que tem uma coisa: Quede os milagres? O Grande Pão de Mel Cósmico responde às orações de seus fiéis? Funda civilizações a partir das cinzas de impérios devastados por bárbaros? Acho que não, né. Então, quem quiser se arriscar que vá lá. E depois me conta.

‘Precisamos tomar uma cerveja’

cerveja

Ouço muita gente falar: ‘Então, Celestino, a gente precisa sentar para tomar uma cerveja’. E penso: é pura mentira. Mentira das grossas. Ninguém que tenha me falado ‘a gente precisa tomar uma cerveja’ efetivamente me chamou para tomar uma cerveja. Jamais. É que ‘precisar tomar cerveja com alguém’ não é matéria própria para reflexão, não é algo que se fale com sinceridade cada vez que encontramos alguém na rua. Eu, que já estou cansado de ouvir bobagens, quando escuto ‘a gente precisa tomar uma cerveja’ sei que o cabra está querendo dizer na verdade: ‘Eu até acho que não morreria de tédio se a gente tomasse uma cerveja rápida, em pé no balcão, qualquer dia desses. Mas enquanto não somos forçados a fazer isso por alguma indesejável circunstância da vida, fiquemos apenas nessa constatação falsa, precisamente a de que precisamos tomar uma cerveja‘. E aí o cabra sai dali e vai tomar cerveja com quem? Com outros amigos a quem ele nunca, jamais, disse: ‘precisamos tomar uma cerveja’. Porque quem precisa tomar uma cerveja com alguém simplesmente a toma. Ora, pois.

Um evento social e ‘familiar’

Sei que com este post arrisco-me a conspurcar este lugar puro. Mas não é possível deixar passar esse grande evento social que a pacata Belo Horizonte receberá próximo do feriado do Dia do Trabalhador. Trata-se, nada mais, mas também nada menos, do que o “Encontro de Nudez Social”. Vejam com seus próprios olhos o cartaz que está circulando nas redes sociais clicando aqui. Desculpem-me, mas me recuso a colocar aqui esse tanto de bunda feia.

Mas, então. Viram? É mole? As bundas, provavelmente sim. Mas o batente será duro. Haverá muito trabalho para quem comparecer ao evento. A propaganda promete: venha conhecer pessoas e fazer amigos. E promete mais: debates, depoimentos e um ‘workshop de nudez em grupo’.

É. Belo Horizonte já não é mais a cidade de Hilda Furacão, da Moça Fantasma de Drummond e do Harém da Av. Bias Fortes.

Fico pensando no nível hormonal dos que comparecem a um evento como esse. A princípio, ninguém deveria ir num troço desses pensando em sexo. Porque há na propaganda pelo menos cinco indicações de que não se trata de evento sexual. Então estamos autorizados a pensar que nele comparecerão vegetarianos, bichos-grilos de toda sorte, Janis Joplins retardatárias, comedores de sol, seguidores do Osho e demissionários das imposições cruéis da moda burguesa opressora. Mas tenho fortes suspeitas de que não é assim.

Quem for, que me conte. Mas, por cautela, se querem fazer amigos e influenciar pessoas, preservando sua integridade física, mantenham distância desses pagãos neo-romanos descendentes de Calígula. E não me tragam teses de doutorado sobre naturismo, primitivismo, natureza, Wilhelm Reich etc e tal. Não aceito. Ninguém nasceu ontem. Somos filhos de Adão e de Eva. Lembram-se? Mais forte. Muito mais forte que uma simpatia pelos costumes núdicos, lúdicos ou selváticos de nossos antepassados está a carne. Sabem? A carne. É. Não há quem escape. Perguntem para o Dr. Freud. Nem ele escapou. Nem sua cunhada, dizem. Coitados.

Mas, concedamos. Nem todo mundo é tão pervertido como o Dr. Sigmund Freud. Então, para provar que ainda temos esperança na humanidade, vamos lá: sem dúvida, quem for encontrará uma meia dúzia de mulheres ingênuas, que vão apenas para o debate. E meia dúzia de rapazotes meio-ingênuos, que nunca pegaram ninguém na vida e vão na esperança de que alguma balzaquiana finalmente dê cabo às suas angústias. Porque, afinal, o evento promete o estabelecimento de novas amizades. E, evidentemente, uma amizade que é selada na nudez permanece sob esse signo: uma vez pelados, sempre pelados. Mas, pô, quem vai negar que essa ‘festinha’ vai estar repleta de tarados e de devassas? É claro que vai. Não tenham dúvidas. Para preservar a moral e os bons costumes, que mineiro adora uma tradição, é bem possível que no evento se mantenham as aparências. Mas depois… ninguém segura o que acontece depois. Não é à-toa que o evento acontecerá num sábado, das 13h às 17h. Sabem por quê? Porque a noite, meus filhos, a noite é uma criança.

Redução da maioridade penal

A bola da vez é a redução da maioridade penal. Algum deputado conseguiu finalmente emplacar essa discussão no Congresso Nacional. E a coisa parece que está andando. O que pensar sobre esse assunto? Ainda não sei ao certo. Mas a verdade é que o discurso contrário à redução é chão. Chega a ser risível. Dou-lhes dois exemplos.

“A redução não vai resolver o problema da criminalidade”.

Beleza, irmão, mas quem está falando em resolver? As pessoas querem que os adolescentes de dezesseis anos sejam tratados com justiça. Ninguém jura que a redução vai resolver o problema. Mas muitos têm a certeza de que tornará a aplicação da lei mais justa. That´s all.

“Defender a redução da maioridade penal é ir contra os direitos humanos”.

Veja. Não ser assaltado e não ser morto por bandidos é também um direito dos seres humanos. De todos. O Direito Penal busca, entre outras coisas, dissuadir as pessoas de cometer essas atrocidades. Busca também a justa punição. A sociedade tem o direito de colocar na cadeia os condenados por crimes graves. Se a gente for esperar consertar o mundo para só depois prender os criminosos certamente não chegaremos no segundo mês da discussão.