Arquivo mensal: julho 2015

Por um mundo melhor

programas

Alarico, se você pudesse eliminar alguma coisa do mundo, o que eliminaria?

Nunca pensei sobre isso. Vejamos…

(acende o cachimbo e assiste à fumaça subindo em direção ao Céu)

Bem, eu acho que o mundo seria um lugar melhor sem os programas de auditório.

Só isso? Então você eliminaria os programas de auditório?

Na verdade, não. Eu não os eliminaria. Eu os utilizaria de um modo mais interessante.

E como os utilizaria, Celestino?

Eu reformaria o Código Penal e os colocaria como pena criminal cumulativa. Tipo assim: Art. 155 — Subtrair coisa alheia móvel. Pena: de um a cinco anos de reclusão e ficar com a televisão ligada o tempo todo assistindo ao Domingão do Faustão.

Tenho certeza de que assim reduziríamos a violência neste país…

Eu também acho. O que ia dar de bandido safado-sem-vergonha tentando arrumar um emprego honesto não está escrito.

É. Não está escrito.

Deus é amor

Todo mundo sabe que Deus é amor. Mas não tem noção do que é isso. Caramba, Deus é amor demais da conta. Ninguém duvida que Ele tem os seus preferidos. Claro. Mas Deus ama a todo mundo. E isso é incrível. Principalmente quando você caminha pelos centros da cidade. Aí você fala: pô, Deus ama aquelas meninas que ficam vendendo cartão de celular na porta das Lojas Americanas. E não só. Ama também os camelôs que ficam vendendo pilhas da China (e dia sim, dia não, têm suas mercadorias apreendidas, com ou sem beó, pela polícia, mas no dia seguinte voltam a trabalhar). Ama o cara que fica soprando aquele negócio que coloca na boca e faz barulho de gato miando. E pior: Deus quer vê-lo no Paraíso (fico pensando: que tamanha transformação o amor de Deus fará neste caso!) Tem mais: Deus ama o cara que vai ao estádio na quarta-feira à noite para gritar pelo seu time. Deus ama os caras da Charanga do Mengão e os torcedores do Corinthians. Deus ama os caras que assistem ao Domingão do Faustão tomando cerveja de latinha. Pode? Ama o tiozão que pergunta em toda festa se é pavê ou pacomê (ama e, creio, até acha graça). Já imaginou Deus rindo disso? Os anjos servem a sobremesa e o cara pergunta: é pavê ou pacomê? E Deus cai na gargalhada… Deus ama as pessoas que falam vévi, que falam menas, que falam que o Vaticano deveria vender a Basílica de São Pedro e a Capela Sistina e doar tudo aos pobres. Deus ama as pessoas que usam crase antes de verbo. Deus ama os Djs e os cantores sertanejos. Deus ama os caras que ficam tocando Charlie Brown Jr. e dizendo que o Chorão era um gênio da poesia. Deus ama o Tico Santa Cruz e até mesmo o Gregório Duvivier. Duvidam? Pois durmam com um barulho desses! Deus ama os ressentidos e os dissonantes, os ateus e os fariseus, os escreventes e os delinquentes. Deus ama até o pessoal do Big Brother Brasil (de todas as edições, sem exceção — e isso inclui o Pedro Bial). Deus ama os escritores de livros de auto-ajuda e de empreendedorismo (e ama os leitores também). Me respondam, se puder: como não amar um Deus assim?

Causas da violência

violencia
Fonte: http://casagrandedm.blogspot.com.br

Alarico, na sua opinião quais são as causas da onda de violência que assola o país?

Não é fácil dizer. Mas, em uma primeira análise, diria que é uma mistura de muitas coisas, entre as quais: o mito do policial amigo, a ideia falsa de que os direitos humanos estão aí para tirar vagabundo da cadeia, uma concepção angelical do ser humano, as secretarias de segurança pública, os sociólogos palpiteiros, líderes políticos avessos ao cumprimento da lei, policial corrupto que facilita para bandido, o Carnaval, a Corte Portuguesa e todos os vagabundos que vieram ganhar algum aqui e depois se mandaram e juiz bundão com medo do tribunal.

E a solução para tudo isso, Celestino, qual é?

Em primeiro lugar é preciso rezar e ter fé em Deus. Em segundo, saber que o crime sempre existiu e sempre existirá. E que não é função da lei propriamente acabar com o crime, mas reduzir sua prática a níveis aceitáveis. Depois, o seguinte: policiais cumpridores da lei, direitos humanos para as vítimas dos crimes (se sobrar energia, também para os bandidos condenados com trânsito em julgado), saber que o ser humano, geralmente, não presta, ter gente decente nas secretarias de segurança pública, acabar com os cursos de graduação em sociologia, ter líderes políticos cumpridores da Constituição e das leis, colocar policial corrupto para correr (sugestão: jogá-los em alto mar, sem bote), pular Carnaval somente nos quatro dias oficiais (os outros 361 dias podem ser leves, mas devem ser vividos com espírito ordeiro), colocar vagabundo aproveitador para correr (pode ser útil aproveitar a ocasião da remessa dos policiais corruptos ao mar e arremessá-los também), ter juízes machos que não puxam saco de desembargador.

“Precisamos investir mais dinheiro na educação” (3)

Neste terceiro post da série, você já deve estar convencido de que “precisamos investir mais dinheiro na educação”.

Para os que ainda não se convenceram, trago este vídeo — prova de que a falta de recursos financeiros está acabando com a qualidade de nossas escolas.

Esse professor safado, vejam só, está ferrado e mal pago. Por isso, caiu na malandragem. Houvesse mais investimentos na educação certamente ele estaria empenhado na exemplar formação de nossas futuras gerações. Como não há, ele faz o que faz.

Lamentável falta de investimentos na nossa educação. Quem tiver ouvidos de ouvir, que ouça!

“Precisamos investir mais dinheiro na educação” (1)

Começo aqui uma série de posts em que pretendo provar, cabalmente, por a mais b, que precisamos investir mais dinheiro na educação.

Assistam a esse vídeo, gravado em Araçuaí, MG, e vejam se o aluno, no fundo, no fundo, não está querendo dizer a todos: “Vejam como está a educação em nosso país! Precisamos investir mais dinheiro na educação!”

E a professora, coitada! É evidente que ela está segura de que não passaria pelo constrangimento se houvesse mais investimentos na educação!

Vejam e digam se eu não tenho razão!

Corram, cubanos, corram!

cuba (1)

Agora que Barack Hussein Obama está tentando reatar as relações com a República de Cuba, os cubanos, que não são bobos, estão correndo contra o relógio. É que estão dizendo por lá, à boca pequena (sim, porque lá em Cuba praticamente não tem internet e o único jornal, que é estatal, ainda fala da Revolução de 1959), estão dizendo que a mamata para os refugiados irá acabar. Vocês sabem: todo cubano que consegue escapar da guarda costeira e coloca os pezinhos em solo americano é recebido com beijos, abraços e afagos do Governo americano. São tratados como refugiados e conseguem até mesmo a cidadania americana. E, principalmente, conseguem a autorização e os recursos, fruto do suor de seus rostos, para ajudar a família que continua presa na Ilha de Fidel Castro.

É o tal negócio: todo cubano sonha em ir para os Estados Unidos sofrer os horrores do capitalismo americano. E agora que correm boatos de que a regalia terá fim, agora que cubano será tratado como qualquer brasileiro de Governador Valadares que entra pela fronteira mexicana, os amigos ilhotas estão se apressando. O resultado é que nunca antes na história dos dois países tanta gente foi devolvida pela guarda costeira: de 1º de junho até meados de julho de 2015, foram recolhidos no mar cerca de 1.864 cubanos. Para vocês terem uma ideia do tamanho do estrago, no ano de 2014 inteiro foram recolhidos 2.059.

Viva la Revolución!

O Uber e os taxistas

uber

O reinado dos taxistas está finalmente ameaçado. Que coisa boa! A concorrência é sempre uma benção dos céus em benefício dos homens. Vejamos como acabará essa batalha entre a tecnologia e a oligarquia atrasada dos sindicalistas do volante.

Em Belo Horizonte teve protesto e o escambau. Queriam quebrar um carro de um motorista filiado ao Uber. Que eles chamam de urubus. Mas a polícia chegou e colocou ordem na bagaça. Os taxistas estão revoltadinhos porque começaram a perder dinheiro. Perder dinheiro já é ruim. Perder dinheiro para gente mais competente deve doer um pouquinho mais.

Embora eu nunca tenha usado o Uber, eu simpatizo muito com a ideia. Por outro lado, eu sempre utilizo serviços de táxi. E como todo mundo faz, me acautelo contra eventuais malandros que circulam por aí. Outro dia um gajo atendeu a um meu chamado e chegou na minha humilde residência com o taxímetro marcando algo em torno de R$7,00. Como só percebi depois de uns trezentos metros e como estava com pressa, continuei no carro do inimigo. Porém me queixei com ele, que não cedeu (disse: “a regra é ligar o taxímetro no ponto, e nós não combinamos nada diferente”). Resultado: Beleza, meu rei, nunca mais te procuro. Assim tu terás mais tempo para fazer espertices com outras pessoas — não mais comigo. Risquei o teu nome da minha agenda.

E o taxista no Rio de Janeiro, que fazia questão de me contar que um primo dele tinha terrenos em Itatiaia, RJ, e que tinha um esquema para comprar, de funcionários da Fundação Estadual do Meio Ambiente, licença ambiental para edificação no Parque Nacional? É mole? E eu, tipo: Quem te perguntou, amigo?

Até na China eu já fui vítima de taxistas: o cabra nos levou do aeroporto ao hotel. Deu uma volta absurda. Achei que já estávamos chegando ao Japão. O valor foi tão absurdo que não era possível pagar sem causar prejuízo ao nosso próprio sustento. Choramos um pouco. Não adiantou. Então, buscando nos resguardar para uma futura e certa reclamação, pedimos o recibo. Sabem o que aconteceu? O moço lá, para escapar de dar-nos o comprovante, reduziu a tarifa em mais da metade. Vagabo. Sem mãe.

Também em Marrakesh um taxista filho de uma quenga nos cobrou um valor quase duas vezes o tabelado. O nosso livro-guia indicava um valor e um adesivo colado no vidro da frente do carro, idem. Só que o cabra insistiu em cobrar uma tarifa maior, tentando me passar um 171 bravo. De nada adiantou eu reclamar. Pois ele mal falava árabe. Tenho certeza de que nunca tentou falar uma palavra em inglês na vida. Comunicávamos por mugidos. Eu tentava apelar ao senso universal de confiança e honestidade; ele tentava me convencer, por seus olhares e gestos, de que a vida era assim mesmo. Bem-vindo ao Marrocos! Não havia como estabelecer qualquer tipo de comunicação saudável com aquele homem do deserto. Naquele dia fui tomado por uma santa ira. Pedi a Deus que fizesse justiça aos seus servos. E ele criou o Uber. Bem feito.

O Uber é outra coisa. Os caras andam de carro novo, terno e têm um bom papo, dizem. É outra conversa. E os taxistas estão revoltadinhos. Não adianta, seus putos. Deixem de bobagem. Ou vocês passam a oferecer um serviço decente ou vão perder a clientela. Ponto. Ninguém tem direito de continuar ganhando dinheiro fazendo a mesma coisa de sempre depois que o mercado inventou novas e melhores formas de prestação de serviços. Não adianta chorar e chamar a polícia. Nem chamar a mamãe. A solução é melhorar o serviço. Ou entrar para o Uber e começar a ler James Joyce e Marcel Proust para conversar com os passageiros. Aliás, tem essa também, né? Ninguém aguenta ouvir taxista falando sobre futebol.