Arquivo mensal: junho 2015

Obsessão por coisas pequenas

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O brasileiro é um bicho estranho. Tem uma verdadeira obsessão por regrinhas de conduta. Mas raramente acerta o alvo; só se importa mesmo, de verdade, com as bobagens, só investe sua indignação moral na fiscalização de miudezas. Há alguns dias um grupo de não-sei-o-quê resolveu fazer uma pegadinha com um engraçadinho que estacionou seu carro indevidamente em uma vaga de deficiente físico em Maringá, PR. Colaram centenas de adesivos no carro, de modo a identificar o infrator. Estigma. Minha opinião: é falta do que fazer. Tá faltando enxada em Maringá? Só pode…

Todo mundo sabe da importância das vagas para deficientes físicos e para idosos em estacionamentos. Ninguém duvida disso. Acontece, porém, que essa coisa ganha com frequência dimensões civilizacionais. Por aqui todo mundo acha que ser um bom ser humano é nunca ter parado na vaga de deficientes. É a primeira pergunta que o porteiro do Céu fará a um brasileiro médio: “Então, candidato ao Paraíso, você alguma vez ousou estacionar na vaga de deficientes físicos no shopping da sua cidade?”. Se a resposta for positiva, nem adianta ter se arrependido. É cana. Choro e ranger de dentes. Vai logo para o lugar quente onde há muita, muita, pressão. Aqui embaixo, na vida ante-túmulo, se o cabra parou em uma vaga reservada, é digno de receber prisão perpétua. Ninguém nunca mais dará emprego para o cara.

Pagar propina para o guarda? Beleza. Sonegar tributos? Tudo bem. Dirigir embriagado? Acontece. Trair a esposa? Normal. Passar a vida inteira sem se interessar por grandes coisas, sem buscar melhorar a própria conduta e a própria inteligência? É a vida do brasileiro, vítima da sociedade. Agora: parar em vaga de deficiente físico? É razão suficiente para condenar o desalmado motorista à cadeira elétrica, sem o devido processo legal. Porque gente assim não merece o nosso tempo e o nosso cuidado. Choque nele.

Seus putos, onde vocês pensam que vão parar com essas cabeças de pato?

Pelo amor que vocês têm pelas suas mãezinhas. Comecemos a dar a devida proporção às coisas. Existem milhares de coisas mais importantes para a gente se indignar. E a nossa capacidade de indignação é limitada. Se você gasta sua indignação com os motoristas sem-noção que estacionaram onde não deviam, não sobrará energia para se indignar com sua própria miséria. Logo, você continuará um miserável. Entendeu? É questão de matemática. Você será para sempre um miserável que posa de bom moço. Mas ainda assim — e por isso mesmo — um grandessíssimo miserável. Ponha a mão na consciência. E dê uma balançada na cabeça, que é para ver se os parafusos voltam para o lugar certo. Qualquer coisa, estou à disposição para ajudá-lo nessa empreitada.

Cursos universitários

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Fonte: http://hypescience.com/

E as propagandas de cursos universitários? São por demais bizarras. Sabem, né? O curso não vale uma pipoca. Mas quem recomenda é o Reynaldo Gianecchini. Logo, deve ser bom.

“Eu não passei na federal, mas tô fazendo o curso recomendado pelo cara daquela novela.”

A faculdade é de fundo de quintal e está pendurada no MEC esperando a autorização. Mas tem lá o Cauã Reymond como garoto propaganda. Logo, vamos lá galera! Ele jamais colocaria sua carreira em risco! Se a faculdade fosse ruim ele não estaria participando da divulgação!

Cuma?

Meus amigos, meus inimigos. Deixa eu lhes falar uma coisa. Em primeiro lugar: se a faculdade contrata um ator de novelas para fazer a propaganda dos cursos que ministra é porque ela é ruim. Entendeu ou quer que eu desenhe? Em segundo lugar: esses caras recebem grana para participar desse troço. Espero que vocês saibam desse pequeno detalhe. Concedo que o mais honesto dos artistas pode eventualmente, como condição para participar do comercial, pedir as credenciais da instituição. Nesse caso raro, mostrar-lhe-ão fotos de um jardim, da biblioteca, dos elevadores e dos aparelhos de data show. Ponto. O cara se dará por satisfeito e perguntará: “Onde eu assino?”

Resultado? Um monte de incautos cairá (como tem caído) no conto do universitário e se matriculará. Isso depois de insistentes ligações telefônicas da instituição oferecendo quase tudo de graça. Agende seu vestibular. Tenha isenção de matrícula. Receba duas mensalidades gratuitas. Até tablet oferecem. Já viram? Tipo: matricule-se e ganhe um tablet. Isso é simplesmente ridículo. Neguinho jamais vai se educar dessa forma. Nem que a faculdade contrate trezentos Gianecchinis. Nem que os alunos recebam dez Macintosh por cabeça.

O que faz a educação é a curiosidade intelectual e o acesso às fontes.

Aí me perguntam: e o que são as fontes, Alarico? As fontes, cambada, são os sábios. Eles podem ser de carne e osso, podem estar em livros ou diluídos em uma tradição. As fontes do conhecimento jamais atendem pelo nome de Reynaldo Gianecchini. Jamais.

Isso o que fazem com essa turma de alunos não tem nome. A maioria não se importa, porque no final das contas acaba ganhando um tablet e um diploma assinado pelo Ministério da Educação. Eles merecem, convenhamos.

A ‘falta de estilo’ é o homem

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Vocês já viram adolescentes, adultos-adolescentes e velhos-dançados-adolescentes com aquelas calças largas caindo e mostrando para todo mundo a cueca de marca. De repente parece que todo mundo virou skatista. Muito descolados, eles se acham. Só que não. Cá para mim, estabeleci a presunção absoluta de canalhice para quem usa esse tipo de vestimenta. Ora. A não ser os aspirantes a pastor protestante, que no começo da carreira ainda não têm dinheiro para comprar roupas novas e adequadas ao seu tamanho e acabam ‘herdando’ ternos antigos e surrados de pastores já promovidos ou de adjacentes desgarrados. Com a exceção destes pobres coitados, todos os homens que usam roupas largas são canalhas. Eu poderia falar muito sobre esse assunto. Talvez eu volte a ele um dia, se sobrar tempo. E se essa moda não for banida por lei — já há vereadores preocupados, querendo legislar sobre a causa. Muito poderia ser dito sobre esse tormentoso tema. Mas quero hoje apenas passar o meu recado a esses homens de calças largas, maiores de dezoito: Tomem vergonha na cara, seus desmiolados! Vistam-se como gente! Enquanto vocês estiverem mostrando as cuecas limpinhas nas ruas da cidade, eu não serei amigo de vocês! Está avisado: não os adiciono no Facebook. Nem adianta virem com agrados. É favor não insistir.